Amamentação prolongada
Tenho duas filhas, uma de 21 meses e outra de 4 anos. Ambas amamentadas, a mais pequena, naturalmente num registo mais regular, e a mais velha, uma vez por dia, às vezes, nem isso.
Isto é somente a prova de que a amamentação não é apenas aporte nutricional. É vínculo, é amor, é de certa forma, o nosso cordão umbilical. Amamento a minha filha mais velha, a Eduarda, porque é a nossa vontade, e na verdade, ainda não penso no desmame. Nem ela. O que me leva a crer, que o desmame natural será o nosso caminho.
Há uns anos, era a Eduarda bebé e participávamos num grupo de apoio à amamentação - ainda vivíamos em Lisboa - e recordo-me das palavras de uma mamã que lá estava , também com a sua bebé, dizendo que se lembrava de mamar. Já a minha mãe tem esta memória. Ambas o relatam com uma ternura e nostalgia próprias de quem revive este momento tão especial e íntimo com a sua mãe. Isso ficou-me de tal forma marcado, que talvez inconscientemente, tenha também contribuído para o que hoje sinto em relação à amamentação - e pelo percurso profissional que pouco depois iniciei. Porque é simplesmente isso que sinto quando me vejo a amamentar as minhas filhas, ternura, afeto. E isso basta para ser superior à vergonha e preconceito que existe em redor desta opção que é a amamentação prolongada. Como é que algo tão puro, pode suscitar outra coisa que não apenas amor. E é isso que gostava que as minhas filhas guardassem dentro delas, uma recordação que prevaleça no tempo, e que as transporte para o meu colo, sempre que precisarem dele.
Acho que o ato de amamentar atenua a saudade que vai crescendo em mim à medida que as vejo "levantar voo". Sei que ainda me cabem no colo, ou enroscadas junto à minha barriga, a parte de mim que um dia foi a sua casa.
Ana Luísa Bárbara
Mãe • Fundadora da Braga Materna • Conselheira em Aleitamento Materno • Assessora de Lactação • Doula